Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

terça-feira, 4 de junho de 2013

Questão sobre A arte de amar de Ovídio

Neste primeiro livro de A arte de amar Ovídio oferece orientações ao homem que deseja conquistar uma mulher (solteira ou casada) na sociedade romana. Comente  alguns dos conselhos que ele apresenta. 

No início do livro, no capítulo Plano, Ovidio diz que o homem deve procurar onde é mais propício encontrar a pessoa certa para ele: "Conhece bem o caçador em que lugares há de aos veados estender as redes; conhece bem por que vales vagueia o javali, de dentes afiados. São conhecidos dos passarinheiros os arbustos, aquele que arma o anzol conhece as águas onde nadam os maiores cardumes; assim também tu, que buscas matéria para um amor duradouro, aprende, primeiro, em que lugares abundam as mulheres".

No capítulo O circo, as corridas de cavalo são um dos lugares sugeridos por Ovidio devida a proximidade que os espectadores ficam um do outro: "... ainda bem que as marcações te obrigam, mesmo que não queiras, a encostar-te, e que ela, graças as condições do lugar, tem de consentir ser tocada por ti".

Em O banquete, explica como o momento de ir a mesa também pode ser propício para uma aproximação, especialmente com ajuda do vinho: "O vinho põe o coração a jeito e torna-o pronto para a fogueira; os cuidados desvanecem-se e diluem-se numa boa dose de vinho puro; chega então, o riso, então o pobre ganha coragem".

Em A Mulher e o desejo, incita os homens a serem auto-confiantes, que a conquista não é uma missão impossível já que as mulheres são propensas a se apaixonarem: "Antes de mais, tem confiança no teu coração de que todas podem ser conquistadas. e vais conquistá-las; basta que estendas as redes".

Em A arte da palavra, aconselha os homens a estudarem, não só pelo conhecimento em si, mas para poder impressionar suas mulheres: "Aprende as boas artes, esse é o meu conselho, ó juventude de Roma, e não apenas para defender réus temerosos; tal como o povo e o juiz severo e os eleitos do senado, assim também a mulher, vencida, há de render as mãos a tua eloquência".

Em Presença constante, mostra como de nada o resto adianta se não se fizer presente e carinhoso: "Sempre que ela se levantar, levanta-te; enquanto estiver sentada, fica sentado; gasta o teu tempo segundo os caprichos da tua dama".

Em A beleza masculina e Palidez descreve um ideal de beleza que os homens devem tentar atingir. Para o autor, "uma beleza desarranjada é o que fica bem aos homens". Ainda que muitos adornos não seja bem vistos pois por exemplo "A filha de Minos, Teseu a levou, sem ter a cabeça enfeitada com qualquer gancho", a higiene e boas vestimentas são essenciais: "É a limpeza que deve dar prazer; revele o corpo a pele tisnada no Campo de Marte; esteja a toga apresentável e sem nódoas; não deve usar-se calçado ressequido e não haja ferrugem nas fivelas". "…sejam cabelo e barba aparados por mão firme; as unhas não devem dar nas vistas de compridas e devem estar limpas, e no nariz não deve haver nenhum pelo; nem saia mau hálito de uma boca malcheirosa, nem atinja o nariz dos outros o fedor do macho e do pai do rebanho". Ou seja, tirando as questões de higiente e vestimenta, qualquer outro tipo de adorno é visto como coisa restrita a mulheres ou homens gays: "Quanto ao resto, deixa-o por conta das mulheres dadas ao prazer ou de qualquer homem que tenha o vício de possuir outro homem".

Ovídio

Ao contrário do que pode-se pensar, Ovidio não repreende a falsidade, enumerando suas vantagens nos capítulos Fingimento e Lisonja, Juras e promessas e especialmente em Lágrimas: "Também as lágrimas são úteis; com lágrimas, comoverás diamantes; faz, se conseguires, que ela veja o teu rosto banhado de pranto; se as lágrimas não aparecerem, pois nem sempre surgem no tempo certo, esfrega os olhos com as mão molhadas".

Em diversos capítulos, enfatiza a importância de tomar a iniciativa, mas isso é ainda mais reforçado no capítulo A iniciativa é masculina, no qual Ovidio diz "Tal como é uma vergonha, sem dúvida, uma mulher tomar a iniciativa".

Também sugere cautela com os amigos no capítulo Desconfiar dos amigos, no qual sugere nunca se gabar da mulher que se tem, pois os amigos podem tentar toma-la: "Não é seguro gabares a um amigo o objeto dos teus amores; quando acredita em ti, que tanto gabas, ele próprio te passa a perna".

Apesar de enumerar diversas receitas e dicas de como conquistar uma mulher, Ovidio termina com o capítulo Para mil mulheres modos mil, no qual deixa claro que não existe fórmula infalível pois "são variados os corações das mulheres" e "Não produz a mesma terra tudo, numa, dá-se bem a videira, noutra, a oliveira; aqui reverdece bem a seara. Tantos são nos corações os modos, quantos no mundo os rostos; quem for sensato, estará preparado para modos sem conta e, qual Proteu, ora se há de adelgaçar nas águas ligeiras, ora há de ser leão, ora árvore, ora javali de pelo eriçado. Aqui apanham-se os peixes com tarrafa, ali com anzol, acolá as redes fundas os arrastam puxadas por cordas retesadas".

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