Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Questão sobre a abertura do palácio de cristal, de Ruskin

No próprio título de seu ensaio Ruskin deixa claro que pretende especular sobre o futuro da arte em geral a partir do Palácio de Cristal londrino. Segundo Ruskin, quais são as potenciais consequências dessa transformação arquitetônica representada pelo Palácio de Cristal? 

Embora o palácio de Cristal londrino seja ovacionado pelo público e pela crítica de seu tempo, para Ruskin, ele não merece esse reconhecimento se pensarmos em arte no seu sentido mais estrito. Ruskin considera o Palácio de Cristal apenas uma grande obra do ponto de vista da engenhosidade mecânica. E a engenhosidade mecância não é a essência nem da pintura, nem da arquitetura. Nas suas próprias palavras: 
"Que não se pense que eu queira depreciar (onde seja possível depreciar) a engenhosidade mecânica que foi demonstrada na ereção do Palácio de Cristal, ou que eu subestime o efeito que sua imensidão vastidão pode continuar a produzir na imaginação popular. Mas a engenhosidade mecânica não é a essência nem da pintura, nem da arquitetura, e a grandeza da dimensão não necessariamente envolve nobreza de design. Seguramente se requer tanta engenhosidade para construir tanto uma fragata, ou uma ponte tubular, quanto uma sala de vidro; todas essas são obras características da época; e todas, em suas diversas maneiras, merecem nossa mais alta admiração, mas não a admiração do tipo que é dedicada à poesia ou à arte".

Entretanto, o mais grave para Ruskin é o fato de obras novas, grandes e imponentes como o Palácio de Cristal incentivarem as pessoas esquecerem das antigas. Segundo ele, muitas obras do passado estão apodrecendo ou mesmo sendo sumariamente destruídas em prol dessa nova arquitetura. As que não são demolidas ou esquecidas, quando restauradas, são restauradas erroneamente, com diversas partes substituídas por cópias em vez de preservar o original tanto quanto possível. Nas palavras de Ruskin:
"… naquele mesmo ano, eu disse, as maiores pinturas dos mestres venezianos estavam apodrecendo em Veneza na chuva, por falta de teto que as protegesse, com buracos feitos por tiro de canhão através de suas telas. Há outro fato, no entanto, mais curioso do que qualquer um desses, que será a partir deste momento ligado à história do palácio que está sendo construído agora; a saber, o de que no mesmo período em que a Europa se congratula pela invenção de um novo estilo de arquitetura, porque quatorze acres de terra foram cobertos com vidro, os maiores exemplos existentes da verdadeira e nobre arquitetura cristã estão sendo resolutamente destruídos; e destruídos por efeito do mesmo interesse que começou a ser despertado por eles".

2 comentários:

  1. Se trata de um pensamento iluminado, muito a frente dos seus contemporâneos, que antecipa em mais de 100 anos os conceitos da carta de veneza.

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  2. Se trata de um pensamento iluminado, muito a frente dos seus contemporâneos, que antecipa em mais de 100 anos os conceitos da carta de veneza.

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