Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

domingo, 18 de agosto de 2013

Questão sobre Tirant le Blanc de Joanot Martorell

Logo na Apresentação da edição brasileira de Tirant lo Blanc, o tradutor e editor Claudio Giordano cita um comentador da obra, Martí de Riquer, para quem o cavaleiro andante Tirant sempre realiza "façanhas verossímeis" e "nunca ultrapassa o humano e o factível". Considerando os trechos lidos da obra, gostaria de saber se você concorda com essa interpretação - justifique sua resposta a partir da análise de alguns exemplos extraídos do texto. 

Concordo com Martí de Riquer. Tirant é descrito como uma pessoa com muitas qualidades, todas aquelas que são esperadas de um cavaleiro, mas nenhuma sobrehumana. O texto mostra isso quando Tirant pergunta a um eremita o que é exclusivo de um cavaleiro. Poderíamos esperar alguma qualidade que fosse além das capacidades humanas, mas o eremita diz que um cavaleiro nada mais é do que um ser humano leal e justo e enfatiza que não é superior aos demais:

— Por minha fé! — exclamou Tirant —. Desejo muito saber o que é exclusivo do verdadeiro cavaleiro. — Meu filho — retrucou o eremita —, quero que saibas que, neste retiro em que me encontro, rememoro diariamente os feitos excelentes e dignos de gloriosa memória, que fazem a história dessa bem-aventurada ordem da cavalaria. O cavaleiro foi criado desde o início para manter a lealdade e a justiça em todas as coisas, e não penses que os cavaleiros provenham de linhagem superior à dos outros: pois todos nos originamos naturalmente de um pai e de uma mãe.


Além disso, na luta entre Tirant lo Blanc e o senhor de Vilasermas, vemos que não há super habilidades, apenas destreza, esforço e principalmente, valentia (e também um pouco de sorte, uma vez que por pouco que Tirant não morreu): "por serem cavaleiros valentíssimos e de grande coragem, permaneciam em combate, implacáveis. Por fim, sentindo-se à beira da morte pelo muito sangue que havia perdido, achegou-se Tirant o mais que pôde do outro e atacou-o de frente, golpeando-o no mamilo esquerdo, direto no coração. Revidou-lhe o outro com forte facada sobre a cabeça, fazendo-o perder a visão dos olhos e cair por terra antes dele. Tivesse o francês podido suster-se quando Tirant caiu, bem que teria conseguido matá-lo, se assim o quisesse. Não teve, porém, força suficiente e tombou imediatamente morto no solo".