Logo na Apresentação da edição brasileira de Tirant lo Blanc, o tradutor e editor Claudio Giordano cita um comentador da obra, Martí de Riquer, para quem o cavaleiro andante Tirant sempre realiza "façanhas verossímeis" e "nunca ultrapassa o humano e o factível". Considerando os trechos lidos da obra, gostaria de saber se você concorda com essa interpretação - justifique sua resposta a partir da análise de alguns exemplos extraídos do texto.
Concordo com Martí de Riquer. Tirant é descrito como uma pessoa com muitas qualidades, todas aquelas que são esperadas de um cavaleiro, mas nenhuma sobrehumana. O texto mostra isso quando Tirant pergunta a um eremita o que é exclusivo de um cavaleiro. Poderíamos esperar alguma qualidade que fosse além das capacidades humanas, mas o eremita diz que um cavaleiro nada mais é do que um ser humano leal e justo e enfatiza que não é superior aos demais:
— Por minha fé! — exclamou Tirant —. Desejo muito saber o que é exclusivo do verdadeiro cavaleiro.
— Meu filho — retrucou o eremita —, quero que saibas que, neste retiro em que me encontro, rememoro diariamente os feitos excelentes e dignos de gloriosa memória, que fazem a história dessa bem-aventurada ordem da cavalaria. O cavaleiro foi criado desde o início para manter a lealdade e a justiça em todas as coisas, e não penses que os cavaleiros provenham de linhagem superior à dos outros: pois todos nos originamos naturalmente de um pai e de uma mãe.
Além disso, na luta entre Tirant lo Blanc e o senhor de Vilasermas, vemos que não há super habilidades, apenas destreza, esforço e principalmente, valentia (e também um pouco de sorte, uma vez que por pouco que Tirant não morreu): "por serem cavaleiros valentíssimos e de grande coragem, permaneciam em combate, implacáveis. Por fim, sentindo-se à beira da morte pelo muito sangue que havia perdido, achegou-se Tirant o mais que pôde do outro e atacou-o de frente, golpeando-o no mamilo esquerdo, direto no coração. Revidou-lhe o outro com forte facada sobre a cabeça, fazendo-o perder a visão dos olhos e cair por terra antes dele. Tivesse o francês podido suster-se quando Tirant caiu, bem que teria conseguido matá-lo, se assim o quisesse. Não teve, porém, força suficiente e tombou imediatamente morto no solo".