Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

sábado, 22 de junho de 2013

Questão sobre Imagens da África de Costa e Silva

Em Imagens da África, antologia organizada por Alberto da Costa e Silva, há vários comentários de viajantes helênicos, muçulmanos e portugueses sobre os africanos, Entre os comentários lidos, indique, com justificativa, um autor que lhe pareça mais interessado em descrever costumes e modo de vida de povos africanos e outro que pareça mais interessado no mapeamento de riquezas passíveis de comercialização.

Deodoro da Sicilia é mais voltado a falar como são os costumes dos africanos, nunca mencionando as riquezas que podem ser encontradas no local. No caso, fala sobre uma tribo governada por um rei chamado Napata, que tem o exótico costume de se auto-inflingir o mesmo dano que o rei sofrer. Por exemplo, se o rei machucar o dedo, eles devem auto-machucar o dedo: "Diz-se que entre os etíopes persiste um estranho costume. Quando o rei de Napata por alguma razão, sofre um dano em alguma parte do corpo, todos os cortesãos devem, por sua própria escolha, infligir-se o mesmo dano, porque consideram que seria desonroso que, tendo o rei ficado coxo de uma perna, seus súditos mais próximos continuassem perfeitos e andassem pelo palácio, a acompanhar o soberano, sem mancar; e seria estranho que uma sólida amizade, que partilha dor e pena, assim como todas as outrâs coisas boas e más, não participasse dos sofrimentos do corpo. Diz-se ser de norma que os cortesãos se suicidem para acompanhar um rei que morre, e que esse suicídio é honroso e prova de verdadeira amizade".

Já na descrição de Chao Ju-Kua, inspetor de comércio da China e possivelmente descendente do imperador Tai-tsung, é voltada mais para mapear as riquezas. No seu curto trecho, ele descreve quais são os produtos que é possível obter na África Índica, como presas de elefante e chifres de rinoceronte. Também descreve que muitos negros são escravizados pelos árabes para serem vendidos por altos preços: "Os produtos do país são presas de elefante e chifres de rinoceronte. A oeste, há uma ilha no mar no qual vivem muitos selvagens, de corpos negros como laca e de cabelos crespos. Atraídos por comida, São capturados e levados como escravos para os países árabes onde atingem altos preços". Perceba que ele não explica como acontece a escravização, nem detalha, apenas se interessa em dizer que "atingem altos preços".

Questão sobre Abelardo e Heloísa

Uma das cartas que compõe o volume da correspondência que teria sido trocada por Abelardo e Heloísa é aquela que o filósofo dirige a um amigo. Nela Abelardo apresenta a sua versão para o romance que viveu com sua aluna, Heloísa. Ao contar a história, apresenta simultaneamente uma determinada imagem sobre si mesmo. Em sua opinião, que imagem seria essa?

Abelardo se vê como uma pessoa extremamente interessada pelas artes e conhecimento, um auto-didata, conforme menciona no seguinte trecho: "meu gênio próprio me conferiu o gosto pelos estudos literários". Em outro trecho diz: "Desde logo exerceram [os estudos] um tal encanto sobre mim que, deixando a meus irmãos o brilho das glórias militares" e "abandonei completamente a corte de Marte e me recolhi ao seio de Minerva".

Abelardo também se considerava de modo geral intelectualmente mais inteligente que os demais, e por causa disso, se via como alvo de grande inveja: "Minha fama crescia dia a dia: a inveja levantava-se contra mim". Sofreu ainda mais desse inveja quando tentou fundar sua escola, mas mesmo com as dificuldades, conseguiu funda-la em Corbeil, cidade próxima de Paris, fazendo uso de seu orgulho e sua auto-segurança: "Cheio de orgulho, seguro de mim, logo transferi minha escola para Corbeil, cidade bem próxima de Paris, para ali prosseguir mais vivamente nesse torneio intelectual".

Essa auto-segurança não era só por causa de sua inteligência, também se considerava um homem bonito e atraente que não precisa temer a recusa das mulheres: "Não duvidava do êxito: eu brilhava pela reputação, juventude e beleza, e não havia mulher junto a quem meu amor tivesse a temer recusa".


Ao conhecer Heloísa, viu outros lados de si mesmo. Por ela, se sentiu completamente apaixonado: "Todo inflamado de amor por essa jovem" e "Sob o pretexto de estudar, entregávamo-nos inteiramente ao amor". Essa paixão abarratadora mostrou o seu lado menos disciplinado: "Fazia minhas lições com negligência e torpor; não falava mais inspiradamente, mas produzia tudo de memória. Eu me repetia. Se conseguia escrever qualquer peça em versos, me era ditada pelo amor, não pela filosofia".

Se via como uma pessoa muito luxuriosa e orgulhosa, mas os acontecimentos e infortúnios que se sucederam em sua vida após o relacionamento com Heloisa, tiraram isso dele. A castração que foi vítima devido ao falso casamento que teve com Heloísa lhe tirou a luxúria, e o orgulho perdeu devido a destruição pública que foi vítima por não fé na bíblia sagrada: "Mas o orgulho e o espírito da luxúria me haviam invadido. Apesar de mim mesmo, a graça divina soube me curar de um e de outro: primeiro da luxúria, depois do orgulho. Da luxúria, tirando- me os meios de me entregar a ela Do orgulho que a ciência (segundo a palavra do apóstolo: "a ciência ensoberbece o coração") havia feito nascer em mim, humilhando-me pela destruição pública do livro do qual tirava a maior jactância.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Relatório sobre a visita a Galeria Mamute e ao Bolsa de Arte

Estudio-galeria Mamute 

Tipo de Instituição: Estudio-galeria

Data da visita: 18 de Maio de 2013

Estrutura física: Localizado em Porto Alegre, na rua Caldas Junior 375, no Centro Histórico, em um prédio tombado pelo patrimônio histórico que mescla elementos neoclássicos, barrocos e de Art Nouveau. Justamente por isso, intervenções drásticas na estrutura do local, como por exemplo para ampliações, não são possíveis. Antigamente, o local onde agora se encontra a galeria era uma residência de luxo, com quartos e salas grandes, que viraram salas para as exposições. Até 2011, a galeria ficava localizada em espaço pequeno na Duque, entretanto, esse espaço não era suficiente e por isso a mudança. O estabelecimento funciona de Segunda a Sexta, das 14 as 18 horas.

Tipo de atividades desenvolvidas e papel no sistema artístico local: Além de ser um espaço para os artistas poderem mostrar suas obras, especialmente as que tangenciam o cruzamento entre arte e tecnologia, também oferece oficinas, grupos de estudo, palestras, cursos e residência artística. O local também comercializa algumas obras, de acordo com o interesse dos artista. Muitos deles retribuem a galeria deixando parte de sua obra para o crescimento do acervo. Atualmente a maior parte do acervo é composta de mídias. O local recebe alguns patrocínios, sendo os mais importantes os proveninentes do Santander Cultural e da GBOEX. No momento de nossa visita, várias obras de video arte estavam em exposição, sendo a mais interessante uma obra de Gabriel Mascaro com Paulo Bruscky denominada "As aventuras de Paulo Bruscky". No video, um avatar de Paulo Bruscky entra no universo virtual da rede social Second Life e no processo de conhecer esse novo mundo, reflete sobre sua vida.

Estrutura pessoal: São 4 pessoas efetivas (Niura, seus filhos e Leocádia Costa) mais a assessoria financeira e colaboradores. 

Profissional que recebeu a turma: Niura Mariza Oliveira da Silva Borges

Biografia resumida: Produtora cultural, videoartista e documentarista com mestrado em artes visuais pela UFRGS e especialista em psicopedagogia. Tem interesse em especial pelo cruzamento entre as artes visuais, tecnologia e o cinema. Por isso, e especialmente, pela demanda que sentiu por um espaço que privilegiasse não só as artes visuais mais tradicionais mas também a video arte, fundou o estudio-galeria Mamute, a primeira do galeria do Brasil focada em video arte, cujo nome se deve a várias razões: além de ser um nome diferente e curto, o mamute é um animal coletivo.



Bolsa de Arte 

Tipo de Instituição: Galeria de arte contemporânea

Data da visita: 8 de Junho de 2013

Estrutura física: O local está localizado na rua Visconde do Rio Branco 365, no Bairro Floresta, em Porto Alegre. é um local de dois andares bastante amplo e clean, com 800 metro quadrados que de acordo com o site, "reflete a confiança de artistas, colecionadores e do mercado no trabalho da galeria". Essa sede nova foi adquirida em Março de 2011, a antiga era localizada na rua Quintino Bocaiuva, não muito distante do local atual.

Tipo de atividades desenvolvidas e papel no sistema artístico local: O local lança exposições com artistas contemporâneos de renome e também iniciantes criteriosamente escolhidos para poderem apresentar e vender suas obras (o local recebe por semana em média 15 portfólios de artistas novos). Além disso, a equipe do Bolsa de Arte costuma ir em feiras, tanto nacionais como internacionais (por exemplo, a feira de arte internacional de Dubai). Normalmente, são 7 exposições e 4 feiras por ano, sendo 2 no Brasil e 2 no exterior. Em mais de 32 anos de atividades, já realizaram mais de 250 exposições. Eventualmente também organizam cursos, mas de acordo com a Marga, não são muito frequentes. Segundo ela, também é fornecida consultoria para pessoas que desejam ajuda para adquirir algum tipo especifico de arte para uma determinada parede ou estabelecimento. Ela mencionou o caso da casa de um cliente, que graças a consultoria, decidiu adquirir e exibir em casa uma video arte no corredor de sua casa. Embora exista um mercado para a arte, há dificuldades para manter o local já que as tributações são bastante pesadas, não havendo nenhum tipo de desconto pelo fato de ser arte.

Estrutura pessoal: Equipe pequena de menos de 10 pessoas, entretanto, representam mais de 30 artistas.

Profissional que recebeu a turma: Marga Pasquali

Biografia resumida: Trabalha no mercado de arte desde 1980. Gerencia a galeria junto com Egon Kroeff. Faz consultorias para clientes, curadorias e acompanha tanto o trabalho dos artistas que a galeria representa quanto os novos que são escolhidos normalmente através da avaliação de seus portfólios.

domingo, 9 de junho de 2013

Questão sobre Os campos perfumados de Muhammad al-Nafzawi

Ainda que Os Campos Perfumados, redigido por Muhammad al-Nafzawi no séc. XV, período próspero na Tunísia, tenha sido com frequência recebido no Ocidente como uma obra "erótica", René Khawam, autor do prefácio que acompanha a edição brasileira, chama a atenção para a importância da "matéria médica" e das observações psicológicas e sociais na estruturação do texto, um "livro de educação pelo exemplo". Em sua opinião, é possível encontrar no trecho lido exemplos, elementos que corroborem o ponto de vista de Khawam?

Certamente. No capítulo I, "Os que são dignos de elogios, dentre os homens, neste domínio", embora existam várias descrições de atos sexuais e narrativas eróticas, a parte educativa também se faz presente no momento que o autor mostras as características físicas e psicológicas do que é esperado dos homens. Por exemplo, no início do texto, o autor cuidadosamente define quais são as dimensões corporais do homem que mais agradam as mulheres. Para o autor, "O homem em questão deve ter o peito leve de se suportar, mas uma bunda que pese muito". Também define com precisão o tamanho de falo mais comuns e esperados. Além de descrições físicas, ensina boas práticas como a importância de banhar-se e do uso de perfumes. Segundo o autor, "utilização dos perfumes para os homens e para as mulheres ajuda a cópula e a multiplica. Quando a mulher sente o cheiro do perfume no corpo do homem, ela se distende de maneira completa". Além disso, são descritas várias características físicas esperadas dos homens conforme o trecho a seguir: "Nunca mente quando fala a uma mulher e suas palavras correspondem a verdade. É liberal, valente, tem sentimentos generosos e caráter fácil de suportar. Quando diz alguma coisa, pode-se acreditar nele, e quando promete, mantém a palavra. Não trai a confiança depositada nele".


O mesmo acontece no capítulo II, "As que são dignas de elogios, dentre as mulheres, neste domínio". Características físicas femininas desejadas são bem detalhadas ("… é aquela que tem bom porte físico, que tem boa estatura, carne generosa, tez branca e brilhante. Seu cheiro será bom. Seus ombros serão afastados um do outro, seus braços largos, os dois ossos do antebraço grossos, Sua boca será estreita, com lábios macios, de cor vermelha carmesim, espessos, quente, equilibrados, carnudos. Terá o nariz estreito e gracioso, faces lisas de um branco brilhante, com tons rosados, olhos grandes. Seus rosto será majestoso e ,segundo alguns, deverá ter forma redonda. Suas sobrancelhas serão arqueadas, sem serem muito separadas, Sua testa será ampla, sob cabelos negros como a pintura dos cílios. Seu pescoço será longo e redondo na base. Essa mulher deverá ter ombros lagos, peito espaçoso e bem desenvolvido, assim como a cintura, os dois seios rijos, o talhe e as dobras do ventre bem proporcionados, os quadris largos e fortes, o seio arredondado, o umbigo no fundo de um abismo, as mãos e os pés pequenos").

Assim como no caso dos homens, partes sexuais femininas, no livro chamado de portal, também são precisamente descritas. Parte psicológica e comportamental da mulher ideal também é descrita em várias partes do capítulo, como por exemplo: "… Aborrecerá pouco o marido ou os vizinhos. Comportar-se-á com muita decência, permanecerá sempre em sua casa, tolerará pacientemente a ausência do esposo. Terá a língua curta e não falará muito. Possuirá as mais belas qualidades e dará conselhos abençoados por Deus a quem vier consultá-la".

Questão sobre As confissões de Santo Agostinho de Agostinho de Hipona

Agostinho de Hipona (354-430) haveria de se tornar um dos mais proeminentes patriarcas da Igreja. No entanto, em suas famosas Confissões (400), decide apresentar em detalhe seus erros de juventude. Que tipos de erro ou falha Agostinho detecta em si mesmo antes da conversão ao cristianismo?

Para Santo Agostinho, suas principais falhas de personalidade quando era jovem, antes de sua conversão, era a luxúria e o gosto de saborear os prazeres da vaidade humana. Além disso, desconhecia a importância de Deus.

A seguir, um trecho onde demonstra seu interesse pelos prazeres carnais e vaidades: "Era para mim mais doce amar e ser amado, se podia gozar do corpo da pessoa amada. Deste modo, manchava com torpe concupiscência aquela fonte de amizade. Embaciava a sua pureza com o fumo infernal da luxúria. Não obstante ser feio e impuro, desejava, na minha excessiva vaidade, mostrar-me afável e delicado".



No capítulo A influência de um livro de Cícero, confessa que estudava eloquência apenas para se gabar: "Era entre estes companheiros que eu, ainda de tenra idade, estudava eloqüência, na qual desejava salientar-me, com a intenção condenável e vã de saborear os prazeres da vaidade humana".

Da metade para o final do livro III demonstra como desconhecia a importância de Deus: Como podia eu conhecê-lo, se meus olhos só atingiam o corpo e meu espírito não via mais do que fantasmas? […] Ignorava que Deus é espírito e não tem membros dotados de comprimento e de largura, nem é matéria, porque a matéria é menor na sua parte do que no seu todo. Desconhecia inteiramente que princípio havia em nós segundo o qual na Sagrada Escritura se diz que "fomos feitos à imagem de Deus". […] Ignorava a verdadeira justiça interior, que não julga pelo costume, mas pela lei retíssima de Deus Onipotente.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Questão sobre A arte de amar de Ovídio

Neste primeiro livro de A arte de amar Ovídio oferece orientações ao homem que deseja conquistar uma mulher (solteira ou casada) na sociedade romana. Comente  alguns dos conselhos que ele apresenta. 

No início do livro, no capítulo Plano, Ovidio diz que o homem deve procurar onde é mais propício encontrar a pessoa certa para ele: "Conhece bem o caçador em que lugares há de aos veados estender as redes; conhece bem por que vales vagueia o javali, de dentes afiados. São conhecidos dos passarinheiros os arbustos, aquele que arma o anzol conhece as águas onde nadam os maiores cardumes; assim também tu, que buscas matéria para um amor duradouro, aprende, primeiro, em que lugares abundam as mulheres".

No capítulo O circo, as corridas de cavalo são um dos lugares sugeridos por Ovidio devida a proximidade que os espectadores ficam um do outro: "... ainda bem que as marcações te obrigam, mesmo que não queiras, a encostar-te, e que ela, graças as condições do lugar, tem de consentir ser tocada por ti".

Em O banquete, explica como o momento de ir a mesa também pode ser propício para uma aproximação, especialmente com ajuda do vinho: "O vinho põe o coração a jeito e torna-o pronto para a fogueira; os cuidados desvanecem-se e diluem-se numa boa dose de vinho puro; chega então, o riso, então o pobre ganha coragem".

Em A Mulher e o desejo, incita os homens a serem auto-confiantes, que a conquista não é uma missão impossível já que as mulheres são propensas a se apaixonarem: "Antes de mais, tem confiança no teu coração de que todas podem ser conquistadas. e vais conquistá-las; basta que estendas as redes".

Em A arte da palavra, aconselha os homens a estudarem, não só pelo conhecimento em si, mas para poder impressionar suas mulheres: "Aprende as boas artes, esse é o meu conselho, ó juventude de Roma, e não apenas para defender réus temerosos; tal como o povo e o juiz severo e os eleitos do senado, assim também a mulher, vencida, há de render as mãos a tua eloquência".

Em Presença constante, mostra como de nada o resto adianta se não se fizer presente e carinhoso: "Sempre que ela se levantar, levanta-te; enquanto estiver sentada, fica sentado; gasta o teu tempo segundo os caprichos da tua dama".

Em A beleza masculina e Palidez descreve um ideal de beleza que os homens devem tentar atingir. Para o autor, "uma beleza desarranjada é o que fica bem aos homens". Ainda que muitos adornos não seja bem vistos pois por exemplo "A filha de Minos, Teseu a levou, sem ter a cabeça enfeitada com qualquer gancho", a higiene e boas vestimentas são essenciais: "É a limpeza que deve dar prazer; revele o corpo a pele tisnada no Campo de Marte; esteja a toga apresentável e sem nódoas; não deve usar-se calçado ressequido e não haja ferrugem nas fivelas". "…sejam cabelo e barba aparados por mão firme; as unhas não devem dar nas vistas de compridas e devem estar limpas, e no nariz não deve haver nenhum pelo; nem saia mau hálito de uma boca malcheirosa, nem atinja o nariz dos outros o fedor do macho e do pai do rebanho". Ou seja, tirando as questões de higiente e vestimenta, qualquer outro tipo de adorno é visto como coisa restrita a mulheres ou homens gays: "Quanto ao resto, deixa-o por conta das mulheres dadas ao prazer ou de qualquer homem que tenha o vício de possuir outro homem".

Ovídio

Ao contrário do que pode-se pensar, Ovidio não repreende a falsidade, enumerando suas vantagens nos capítulos Fingimento e Lisonja, Juras e promessas e especialmente em Lágrimas: "Também as lágrimas são úteis; com lágrimas, comoverás diamantes; faz, se conseguires, que ela veja o teu rosto banhado de pranto; se as lágrimas não aparecerem, pois nem sempre surgem no tempo certo, esfrega os olhos com as mão molhadas".

Em diversos capítulos, enfatiza a importância de tomar a iniciativa, mas isso é ainda mais reforçado no capítulo A iniciativa é masculina, no qual Ovidio diz "Tal como é uma vergonha, sem dúvida, uma mulher tomar a iniciativa".

Também sugere cautela com os amigos no capítulo Desconfiar dos amigos, no qual sugere nunca se gabar da mulher que se tem, pois os amigos podem tentar toma-la: "Não é seguro gabares a um amigo o objeto dos teus amores; quando acredita em ti, que tanto gabas, ele próprio te passa a perna".

Apesar de enumerar diversas receitas e dicas de como conquistar uma mulher, Ovidio termina com o capítulo Para mil mulheres modos mil, no qual deixa claro que não existe fórmula infalível pois "são variados os corações das mulheres" e "Não produz a mesma terra tudo, numa, dá-se bem a videira, noutra, a oliveira; aqui reverdece bem a seara. Tantos são nos corações os modos, quantos no mundo os rostos; quem for sensato, estará preparado para modos sem conta e, qual Proteu, ora se há de adelgaçar nas águas ligeiras, ora há de ser leão, ora árvore, ora javali de pelo eriçado. Aqui apanham-se os peixes com tarrafa, ali com anzol, acolá as redes fundas os arrastam puxadas por cordas retesadas".