Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Relatório sobre o ciclo de palestras sobre Arte e Educação no Iberê Camargo

Palestrante da primeira palestra: Paulo Portella Filho, coordenador do serviço educativo do MASP.

Paulo falou sobre a construção de sentidos com o público e seu trabalho no setor de educação do MASP. Setor esse que abriu somente após 60 anos depois da inauguração do museu (abertura oficial do setor foi em 1996, com 15 integrantes). Uma das iniciativas dele foi criar uma assessoria para professores de escolas públicas e particulares. Duas horas por semana esses professores recebem instrução para poderem repassar a seus alunos. Também existe um curso introdutório a história da arte usando obras do MASP, que acontece uma vez por mês sempre num Sábado. O curso já está na décima quinta edição, sempre lotado. Falou também das visitas guiadas realizadas no MASP, que podem incluir atividades de artísticas como pintura. Também falou de um projeto chamado amigos do MASP, em que professores ganham uma carteirinha que dá acesso ao museu de graça (o ingresso normal custa 15 reais). Entretanto, Paulo deixou claro que o setor educativo do MASP não visa auxiliar apenas escolas e mencionou um projeto no qual policiais militares aprendem sobre arte nas dependências do museu.

Palestrante da segunda palestra: Maria Isabel Leite, arte-educadora.

O foco de Maria Isabel foi os museus e as crianças. Ela mostrou como museus são ambientes na realidade de tédio e principalmente opressivos para crianças em vez de lugares que incentivem o lado artístico delas. As obras como quadros normalmente ficam numa altura ruim para qualquer criança poder olhar adequadamente, além disso, museus hoje em dia são cheios de seguranças, alarmes e regras. Ela citou como exemplo uma ida desastrosa ao museu de seu sobrinho que acabou disparando um alarme de um quadro sem querer por se aproximar demais de um vidro que protegia a obra. Ela mostrou também algumas iniciativas de alguns museus para deixar seu acervo mais acessível. Por exemplo, falou de um museu que permitia fazer festas de aniversário dentro, junto as obras, antes da entrada do público, junto com atividades lúdicas. A arte-educadora falou da falácia de que crianças querem sempre obras especialmente direcionadas para elas (como a exposição história em quadrões da Turma da Mônica) quando na realidade, crianças também podem apreciar obras de qualidade que são em princípio direcionadas a adultos.

Palestrante da terceira palestra: Cayo Honorato, pesquisador da USP.

A Palesta do Cayo tocou na importância do público no trabalho de um artista. Ele dividiu a palestra em três partes. Na primeira, mencionou um artigo de Marcel Duchamp chamado O ato criador, publicado em Abril de 1957. Nesse artigo, Duchamp afirma que o ato criador não é consumado sozinho. Isto é, existe uma área nebulosa entre a intenção de um artista e a obra em si. A obra quase nunca corresponde 100% as intenções do artista. Cabe ao público interpretar e decifrar essa área entre a intenção e a realização. Ou seja, o público ajuda o artista e tem papel fundamental pois acrescenta novas interpretações para as obras. Na segunda parte da palestra, Cayo falou sobre um artigo denominado A importância do público, de Leon DeGand, publicado em 1948. Esse artigo discorria sobre a falta de estudos sobre o impacto e importância desse público na obra de um artista. De acordo com o autor: "A obra não é apenas aquilo que o artista pretendeu que ela fosse, consciente ou inconsciente. É também [sic] tudo aquilo que cada um de nós, em obediência aos modismos espirituais da época e [sic] do estado de humor pessoal, diminui, acrescenta ou modifica". Além disso, foi comentado que existe uma dissonância entre público e artista e a única maneira de acabar com esse mal entendido é a educação. Para Matarazzo, o público não entende nada de arte moderna e deve ser educado mesmo a sua revelia. Na terceira parte da palestra, Cayo mostrou um projeto americano que ocorre na cidade de Minneapolis chamado Open Field. No verão, uma grande área aberta ao lado de um museu é usada para diversas atividades com o público, das mais variadas, desde violino para iniciantes a sessão de videos sobre gatos da Internet (lolcats).

Palestrante da quarta palestra: Rejane Coutinho, pernambucana pesquisadora do IA da Unesp.

A palestra de Rejane Coutinho foi para pensar sobre a formação do educador enquanto mediador cultural. A formação dos educadores é de extrema relevância e é responsabilidade do formador sempre manter o seu processo de formação, pois esse processo está sempre incompleto e em transformação. Além disso, o educador deve refletir constantemente e pensar sobre como foi sua própria educação de modo que consiga entender as dificuldades e desafios que seus alunos enfrentam. Por mediadores, entendemos que não são apenas professores, mas também mediadores de Instituições de arte, afinal, mediar é informar, partilhar, convencer e seduzir. Outra discussão que Rejane colocou em pauta foi sobre o papel do educativo para instituições. Para ela, existem dois grandes papéis: o papel promocional (valorização da instituição, conquista de clientes) e o educacional (transmissão de valores).

terça-feira, 16 de abril de 2013

Questão sobre o Mahabharat

Os pândavas e os káurava são parentes muito próximos. No entanto, há muitas características que os distinguem e os separam, diferenças que justificam a guerra que os dois grupos travarão no Mahabharata. Que características são essas, a seu ver? Ilustre sua resposta com alguns exemplos tirados do trecho lido.

A primeira grande diferença é que os pândavas são filhos de deuses ao passo que os káuravas não. Devido a maldição que Pandu sofreu, ele jamais poderia ter filhos, ou morreria caso tentasse. Por isso, decidiu morar na floresta como um asceta e abdicar do trono de Hastinapura que era seu de direito. Na floresta vivia com suas duas esposas: Kunti e Madri. Kunti tinha uma particularidade: ela sabia de um mantra capaz de invocar os deuses. Pandu interessado em continuar sua linhagem apesar da maldição, pediu para Kunti invocar os deuses.



Três pândavas nasceram da relação de Kunti com os deuses e dois gêmeos nasceram da relação de Madri com outros deuses (Kunti havia invocado os deuses para ela). Já os cem káuravas são filhos de Dritarastra, irmão mais velho e cego de Pandu. Após a morte de Pandu (que desobedeceu a maldição) e a de Madri por ter desejado acompanha-lo na morte, Kunti e os cinco irmão foram para Hastinapura para serem criados juntos com os primos káuravas. De acordo com o texto, os pândavas eram pessoas cheias de qualidade:

Todos os cinco irmãos exibiam excelentes qualidades. Humildes e obedientes aos mais velhos, eram generosos e sempre sinceros. Conforme cresciam, os anciãos kurus viam que eles seriam os melhores sucessores para o trono. Os garotos dos deuses agradavam aos kurus de todas as maneiras. 

Graças a tantas qualidades, isso gerou uma grande inveja nos káuravas:

Esses princípes, que eram conhecidos como káuravas, logo começaram a invejar os filhos de Pandu. O mais velho deles, Duriodhana, sentia uma raiva especial pelos primos, percebendo que ameaçavam sua reinvidicação ao trono. Nem ele nem seus irmãos tinham alguma das virtudes demonstradas pelos pândavas. Na verdade, havia uma grande preocupação quanto a possibilidade de Duriodhana se tornar rei, uma vez que seu nascimento se fizera acompanhar de muitos maus augúrios.

Esse trecho acima demonstra que além de serem invejosos, os káuravas não possuiam no mesmo grau todas essas qualidades que os pândavas possuiam (humildade, obediência, generosidade, sinceridade). Além disso, enquanto o nascimento dos pândavas é auspicioso pois nasceram de deuses, o do kaurava mais velho é justamente o oposto, com "muitos maus augúrios". Essa inveja nos káuravas gerou ódio, conforme o trecho seguinte:

Vendo que a importância de sua posição diminuia com a presença dos pândavas, Duriodhana se encolerizou, pressentindo que seu direito ao trono estava ameaçado. Além das muitas qualidades pessoais, parecia que os pândavas também tinham objetivos superiores para o reino.

Por causa dessa raiva, os káuravas tentaram matar os pândavas em diversas oportunidades. A primeira delas foi a tentativa de envenenamento de Bima que falhou graças ao antídoto de uma cobra. Também houve uma tentativa de queimar todos os pândavas dentro de uma casa numa emboscada. Isso demonstra que os káuravas não tinham limites em sua ambição. O comportamento correto dos pândavas é novamente evidenciado em outra parte do texto:

O comportamento correto e quase divino dos pândavas conquistou Bishma e Vidura, de quem eles eram os favoritos. 

Já o comportamento dos káuravas é o oposto do considerado correto:

O príncipe kaurava era muito arrogante e dado a certo comportamento licencioso. Eles e os irmãos adoravam beber muito vinho e ficar com mulheres, rindo-se dos pândavas, que se mantinham fiéis aos princípios da virtude. 

Os káuravas também demonstram falsidade a fim de fazer suas emboscadas contra os pândavas, como por exemplo quando estavam agrando o povo só para levar a cabo o plano de queimar os pândavas:

Já notara como os káuravas estavam tentando obter a simpatia do povo com favores e caridades, e agora comprendia por quê. Para ele (Iudistira), era óbvio que algum plano malicioso estava a caminho.

Por fim, os pândavas demonstram se entender mais entre si do que os káuravas conforme esse trecho:

Os outros pândavas, sempre obedientes ao irmão mais velho, concordaram.

Já os káuravas, discordaram inicialmente quando estavam tramando o plano de queimar os pândavas (um dos káuravas sugeriu não fazer a emboscada, mas sim enfrenta-los numa batalha corpo a corpo). Todas essas características levam a crer que os pândavas representam o comportamento correto, ligado aos deuses, ao auto-conhecimento, enquanto os káuravas tem um comportamento egoísta, invejoso, falso e inconsequente.

domingo, 14 de abril de 2013

Relatório sobre a visita ao arquivo histórico do Instituto de Artes

Instituição: Arquivo histórico do Instituto de Artes

Tipo de instituição: Arquivo

Data da visita: 23 de Março de 2013

Estrutura física: Sede localizada em prédio na rua Sarmento Leite, 500, sala 114 em Porto Alegre. Consiste de algumas salas onde estão guardados a maior parte dos documentos gerados pelo Instituto de Artes da UFRGS.

Tipo de atividades desenvolvidas e papel no sistema artístico local: O arquivo histórico do Instituto de Artes tem o papel de guardar de documentações do Instituto de artes de forma que elas fiquem conservadas para manter viva a história do Ia. Armazena aproximadamente 400m lineares de documentos relativos a origem, aos direitos e objetivos da instituição, incluindo documentos como regimentos, regulamentos, leis, decretos, planos, plantas arquitetônicas, projetos, programas, pareceres, correspondências, etc. Possui também acervo manuscrito e visual como fotografias, gravuras e impressos.

Estrutura Pessoal: Atualmente composta pela arquivista Medianeira, um técnico administrativo e bolsistas.

Profissional que recebeu a turma: Medianeira Pereira Goulart.

Biografia resumida: Bacharel em Arquivologia, pela Universidade Federal de Santa Maria, em 1993. Especialista em Gestão em Arquivos, em 2010. Arquivista na Universidade Federal do Rio Grande Do Sul. Atua nas áreas de gestão em arquivos, elaboração e desenvolvimento de projetos e sistemas de informação, memória, história e políticas de preservação e conservação de acervos. Medianeira nos recebeu no Arquivo e contou das dificuldades enfrentadas para salvar os documentos. A primeira pessoa a tentar resgatar os documentos do IA foi o prof. Sirio Simon. Esses documentos foram enviados para um depósito em 1994. Entretanto esse depósito tinha diversos problemas: sofria alagamentos que molhava os documentos, além de sérios problemas na instalação elétrica que poderia incorrer num incêndio a qualquer momento, o que faria todo o material ser perdido.


Medianeira mostrou 2 fotos desse depósito que de fato confirmavam a situação calamitosa do Arquivo. Muito material simplesmente foi perdido ou apodreceu durante esse periodo. Em 2000 finalmente um local melhor foi cedido pela UFRGS, local onde o arquivo se encontra agora. Mesmo com o novo local, as dificuldades continuavam. Muitos funcionários da própria UFRGS não davam valor para o trabalho sendo realizado pela Medianeira e exigiam que as salas fossem usadas para outros propósitos. Aos poucos o material foi sendo organizado e a situação foi melhorando. Infelizmente, pouco depois o Arquivo foi arrombado por causa de um assalto, e alguns materiais como impressoras e scanner foram roubados. Medianeira também contou de um projeto extremamente bem sucedido realizado em 2009. Diversas fotos antigas selecionadas por ela foram colocadas no site do Arquivo do Ia. Com ajuda de divulgação de meios de massa como o Jornal Zero Hora, a população foi convocada a explicar quem e o contexto dessas fotos. Muitos alunos, ex-alunos e outras pessoas colaboraram, o que permitiu que quase todas as fotos fossem contextualizadas.

Relatório da visita ao Instituto de Artes

Instituição: Instituto de Artes da UFRGS

Tipo de instituição: Faculdade de artes visuais, cênicas e de música.

Data da visita: 16 de Março de 2013

Estrututura fisica: Sede localizada em prédio na rua Senhor dos Passos, 248, em Porto Alegre, com salas de aula, biblioteca, além dos espaços culturais mantidos pelo IA tais como o Auditorium Tasso Correa, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Sala Alziro Azevedo e Sala Qorpo Santo.

Tipo de atividades desenvolvidas e papel no sistema artístico local: O IA tem papel fundamental na formação de novos artistas, além de permitir que pesquisa em arte seja feita pelos professores. O IA também promove e organiza eventos culturais.

Estrututura Pessoal: Composto por mias de 100 professores e 55 funcionários do corpo técnico administrativo (contabilidade, núcleo de informática, almoxarifado, recepção, comunicação, portaria, etc) e cerca de 800 alunos regularmente matriculados. 

Profissional que recebeu a turma: Paulo Gomes.

Biografia resumida: Artista plástico, curador independente e professor na UFRGS. Mestre e Doutor em Artes Visuais – Poéticas Visuais, pela UFRGS. Desenvolve pesquisa na área de Poéticas Visuais, sobre arte contemporânea e arte no Rio Grande do Sul. Tem textos publicados em livros, revistas e jornais. Paulo Gomes falou principalmente de sua pesquisa resgatando a história do Instituto de Artes da UFRGS, o que derivou em um livro que ainda será publicado. O instituto de artes nasceu em 22 de Abril de 1908 com o nome de Instituto livre de Belas Artes fundado pelo médico Olinto de Oliveira, que inclusive hipotecou a casa para comprar equipamentos para o Instituto. Em 1930, o instituto junto com outros 5 cursos formou a UPA (Universidade de Porto Alegre).


Segundo Paulo Gomes, existia um preconceito de outros cursos por achar que um curso de Artes Plásticas não "merecia" estar junto com outros cursos mais "importantes" como Engenharia e Medicina. Em 1939 foi desvinculado da UPA, mas em 1962 foi reanexado a uma Universidade, mas dessa vez a UFRGS. O prédio que visitamos foi concluído em 1943 com ajuda de hipotecas de alguns professores. O IA seria na concepção inicial formado por 3 prédios, entretanto, só um deles foi finalizado. O professor Paulo mostrou várias salas do prédio, e mencionou as dificuldades em manter as caracteristicas e obras do prédio. Por exemplo, nos mostrou uma sala de aula com um mural que infelizemente não recebeu a devida valorização mesmo dos alunos pois cadeiras eram colocadas se apoiando na parede onde está a obra, além de infiltrações que no passado danificaram o mural. Também nos mostrou uma sala onde uma parede que tinha um mural foi completamente pintada de preto pelos alunos pois atrapalhava as festas que eram promovidas no local. Também mostrou o diretório acadêmico, uma sala nova onde pinturas são guardadas e a entrada do Instituto onde existem duas moulages, uma da Venus e outra de Apolo de Belvedere. Falou também de um mural que existe bem no alto na frente do prédio que estava com algumas rachaduras mas que foi parcialmente restaurado. Mencionou o bar que existiu por um longo tempo mas que foi fechado por falta de demanda. Atualmente uma das grandes reinvidicações dos alunos é pela reabertura dele.

Comentários sobre A epopéia de Gilgamesh

Em A Epopeia de Gilgamesh, um conjunto de histórias sumérias sobre o jovem rei de Uruk, é possível perceber aspectos associados à vida civilizada, à vida selvagem e ainda à convivência entre ambas. A partir de alguns exemplos extraídos do texto, reflita sobre esse tema. 

 No texto, Gilgamesh representa a vida civilizada enquanto Enkidu representa a vida selvagem. Isso fica claro em diversas partes do texto. O texto logo começa descrevendo aspectos físicos de Enkidu:

Seu corpo era rústico, seus cabelos como os de uma mulher; eles ondulavam como o cabelo de Nisaba, a deusa dos grãos. Ele tinha o corpo coberto por pêlos emaranhados, como os de Samuqan, o deus do gado. Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. 

Esse trecho evidencia a aparência ''animalesca" de Enkidu (cabelos longos, pelos emaranhados) além de mostrar aspectos de personalidade mais primitivos e ligados a natureza como a inocência e a falta de conhecimentos sobre cultivo da terra (o cultivo da terra foi justamente o que sedentarizou e iniciou a revolução do neolítico que civilizou o homem).



Em outro trecho, é feito um paralelo entre o comportamento dos animais da floresta e Enkidu, mostrando que ambos se comportavam da mesma maneira, pois ele comia e bebia o mesmo que os animais:

Enkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água. 

A convivência entre o selvagem e o urbano é num primeiro momento tensa. Um caçador representante da vida urbana diz sobre Enkidu:

Ele é o homem mais forte do mundo, parece um dos imortais do céu. 

O medo fica mais claro nessa outra frase:

Tenho medo e não ouso dele me aproximar. 

O homem selvagem atrapalha o homem civilizado, como demonstra essa passagem:

Ele (Enkidu) tapa os buracos que cavo e destrói as armadilhas que preparo para a caça; ele ajuda as feras a escapar e agora elas escorregam por entre meus dedos. 

A convivência fica mais tensa quando o caçador decide "civilizar" Enkidu, através das "artes da mulher". Segundo Deus, isso faria os animais repudiarem Enkidu. O caçador com ajuda de uma rameira, segue então o plano, que de fato dá certo; as "artes da mulher" trazem para o homem selvagem o conhecimento e os "pensamentos do homem", como mostra essa parte do texto:

Enkidu queria segui-las (as gazelas), mas seu corpo parecia estar preso por uma corda, seus joelhos fraquejavam quando tentava correr, ele perdera sua rapidez e agilidade. E todas as criaturas da selva fugiram; Enkidu perdera sua força, pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração. 

Esse novo conhecimento gera a transformação do homem primitivo no homem civilizado. Se transforma na corda metafórica que não deixa Enkidu seguir os animais. Essa transformação parece ruim num primeiro momento por causa do repudio dos animais, mas acaba sendo vista com bons olhos por Enkidu quando a rameira o sugere ir a cidade. Nas palavras da rameira:

És sábio, Enkidu, e agora te tornaste semelhante a um deus. Por que queres ficar correndo à solta nas colinas com as feras do mato? Vem comigo. Vem e te levarei à Uruk ...

Outra passagem dessa colisão de dois mundos é quando Enkidu bebe vinho e come pão pela primeira vez:

Eles depositaram pão à sua frente, mas Enkidu só estava habituado ao leite que sugava dos animais selvagens. Ele se atrapalhou com as mãos e pasmou, sem saber o que fazer com o pão e o vinho forte. A mulher então disse: Enkidu, come o pão, é o suporte da vida; bebe o vinho, é o costume da terra. Enkidu então comeu até ficar satisfeito e bebeu do vinho forte, sete cálices. Ele ficou alegre, seu coração exultou e seu rosto se cobriu de brilho. Enkidu escovou os pêlos emaranhados de seu corpo e untou-se com óleo. Ele se transformara num homem; 

O embate final entre o homem civilizado contra o homem selvagem é representado na luta entre Gilgamesh e Enkidu:

Os dois então se engalfinharam como touros. Destruíram a porta da casa, e suas paredes tremeram; bufavam como dois touros trancados juntos. 

No fim, essa luta foi vencida por Gilgamesh, representante da vida civilizada. Embora Gilgamesh represente a vida civilizada, ele também demonstra um fascínio pela vida selvagem, isso é evidenciado quando ele conta um sonho que teve a sua mãe:

Um meteoro, feito da mesma substância de Anu, caiu do céu. Tentei levantá-lo do chão, mas era pesado demais. Toda a gente de Uruk veio vê-lo; o povo se empurrava e se acotovelava ao seu redor, e os nobres se apinhavam para beijar-lhe os pés; ele exercia sobre mim uma atração semelhante à que exerce o amor de uma mulher. 

Sua mãe então conta que esse meteoro representa Enkidu:

Ele é um forte companheiro, alguém que ajuda o amigo nas horas de necessidade. Ele é o mais forte entre todas as criaturas selvagens; é feito da substância de Anu. Ele nasceu nos campos e foi criado nas colinas agrestes. Ficarás feliz ao encontrá-lo; vais amá-lo como a uma mulher, e ele jamais te abandonará. E isto o que significa teu sonho. 

Nessa afirmação mais uma vez Enkidu é comparado a vida no campo pois nasceu nos campos e foi criado nas colinas agrestes. Embora exista esse fascínio do homem civilizado em relação a natureza, não há volta para o mundo selvagem uma vez que se conhece a civilização.

Comentários sobre o Tao Teh King

Na primeira parte do Tao Teh King é delineado o perfil do Sábio, com a indicação de quais devem ser as suas características. Discorra então, em sua resposta, sobre essas características.

A principal lição do Tao Teh King é que o sábio não deve criar intrigas. Essas intrigas são evitadas se ele manter o povo na paz, sem grandes anseios e vontades, pois é isso que gera os inimigos. Por exemplo, no texto é dito

quando o mundo reconhece o belo como belo, está criando a fealdade.

Isso que dizer que no momento que alguém diz que tal flor é a mais bonita, está automaticamente dizendo que as demais não são tanto, ou seja, criando a fealdade. O Sábio deve evitar criar essas diferenciações pois

Ser e não ser emanam da mesma fonte, ainda que tenham nomes diferentes. Ambos são um mistério. E nesse mistério está a porta para toda a maravilha.

Isto é, não diferenciar, manter o mistério entre por exemplo o belo e o feio é a porta para toda a maravilha. O sábio que segue essa regra é aquele que

faz seu trabalho, mas não lhe outorga nenhum valor,

justamente para evitar a diferenciação. Isso fica mais claro quando é dito:

Não louvando os dotados, evitarás a rivalidade e a luta

Não dando valor as coisas difíceis de conseguir, evitarás o ataque e o roubo,


ou seja, mais uma vez, louvar, elogiar, diferenciar, pode num primeiro momento parecer bom, pois eleva algumas pessoas, mas na realidade (do Tao Teh King), cria inveja, vontades indesejadas nos outros e consequentemente, inimigos. O bom governo então, seguindo essa linha de raciocínio, é aquele que

esvazia o coração de desejos,

enfraquece as ambições,

para que os mais astutos não busquem o triunfo,

e por triunfo aqui entendemos tirar o poder do Sábio. Em suma, deve-se evitar os inimigos e as lutas pois

se não lutas contra outros, estarás livre de culpa

Outro motivo para fugir das lutas é que é é impossível vencer todas pois

Golpeia e afia constantemente uma espada, e não poderás manter seu fio por muito tempo.

Essa frase diz muito a respeito do porque evitar brigas: não importa o quão bom e poderoso o sábio é, nem mesmo uma espada que é sempre afiada mantém seu fio pra sempre, assim como nem sempre uma pessoa bem preparada vai vencer sempre as brigas.


Deve-se entrar na briga somente quando estritamente necessário. O sábio deve ser parco em palavras e ações. Enfim,
Sê um lider e não um assassino,

não é vencer a guerra o caminho, mas sim evitá-la. O dirigente que consegue seguir isso acaba sendo

aquele cuja existência passa quase desapercebida por entre o povo.

O bom dirigente não é aquele que venceu grandes guerras, é aquele que não precisou participar de nenhuma, mesmo que isso o faça não ser tão lembrado quanto outros dirigentes.

Aquele que se exibe não brilha.

Conhece o glorioso, mantém-te humilde.