A primeira grande diferença é que os pândavas são filhos de deuses ao passo que os káuravas não. Devido a maldição que Pandu sofreu, ele jamais poderia ter filhos, ou morreria caso tentasse. Por isso, decidiu morar na floresta como um asceta e abdicar do trono de Hastinapura que era seu de direito. Na floresta vivia com suas duas esposas: Kunti e Madri. Kunti tinha uma particularidade: ela sabia de um mantra capaz de invocar os deuses. Pandu interessado em continuar sua linhagem apesar da maldição, pediu para Kunti invocar os deuses.
Três pândavas nasceram da relação de Kunti com os deuses e dois gêmeos nasceram da relação de Madri com outros deuses (Kunti havia invocado os deuses para ela). Já os cem káuravas são filhos de Dritarastra, irmão mais velho e cego de Pandu. Após a morte de Pandu (que desobedeceu a maldição) e a de Madri por ter desejado acompanha-lo na morte, Kunti e os cinco irmão foram para Hastinapura para serem criados juntos com os primos káuravas. De acordo com o texto, os pândavas eram pessoas cheias de qualidade:
Todos os cinco irmãos exibiam excelentes qualidades. Humildes e obedientes aos mais velhos, eram generosos e sempre sinceros. Conforme cresciam, os anciãos kurus viam que eles seriam os melhores sucessores para o trono. Os garotos dos deuses agradavam aos kurus de todas as maneiras.
Graças a tantas qualidades, isso gerou uma grande inveja nos káuravas:
Esses princípes, que eram conhecidos como káuravas, logo começaram a invejar os filhos de Pandu. O mais velho deles, Duriodhana, sentia uma raiva especial pelos primos, percebendo que ameaçavam sua reinvidicação ao trono. Nem ele nem seus irmãos tinham alguma das virtudes demonstradas pelos pândavas. Na verdade, havia uma grande preocupação quanto a possibilidade de Duriodhana se tornar rei, uma vez que seu nascimento se fizera acompanhar de muitos maus augúrios.
Esse trecho acima demonstra que além de serem invejosos, os káuravas não possuiam no mesmo grau todas essas qualidades que os pândavas possuiam (humildade, obediência, generosidade, sinceridade). Além disso, enquanto o nascimento dos pândavas é auspicioso pois nasceram de deuses, o do kaurava mais velho é justamente o oposto, com "muitos maus augúrios". Essa inveja nos káuravas gerou ódio, conforme o trecho seguinte:
Vendo que a importância de sua posição diminuia com a presença dos pândavas, Duriodhana se encolerizou, pressentindo que seu direito ao trono estava ameaçado. Além das muitas qualidades pessoais, parecia que os pândavas também tinham objetivos superiores para o reino.
Por causa dessa raiva, os káuravas tentaram matar os pândavas em diversas oportunidades. A primeira delas foi a tentativa de envenenamento de Bima que falhou graças ao antídoto de uma cobra. Também houve uma tentativa de queimar todos os pândavas dentro de uma casa numa emboscada. Isso demonstra que os káuravas não tinham limites em sua ambição. O comportamento correto dos pândavas é novamente evidenciado em outra parte do texto:
O comportamento correto e quase divino dos pândavas conquistou Bishma e Vidura, de quem eles eram os favoritos.
Já o comportamento dos káuravas é o oposto do considerado correto:
O príncipe kaurava era muito arrogante e dado a certo comportamento licencioso. Eles e os irmãos adoravam beber muito vinho e ficar com mulheres, rindo-se dos pândavas, que se mantinham fiéis aos princípios da virtude.
Os káuravas também demonstram falsidade a fim de fazer suas emboscadas contra os pândavas, como por exemplo quando estavam agrando o povo só para levar a cabo o plano de queimar os pândavas:
Já notara como os káuravas estavam tentando obter a simpatia do povo com favores e caridades, e agora comprendia por quê. Para ele (Iudistira), era óbvio que algum plano malicioso estava a caminho.
Por fim, os pândavas demonstram se entender mais entre si do que os káuravas conforme esse trecho:
Os outros pândavas, sempre obedientes ao irmão mais velho, concordaram.
Já os káuravas, discordaram inicialmente quando estavam tramando o plano de queimar os pândavas (um dos káuravas sugeriu não fazer a emboscada, mas sim enfrenta-los numa batalha corpo a corpo). Todas essas características levam a crer que os pândavas representam o comportamento correto, ligado aos deuses, ao auto-conhecimento, enquanto os káuravas tem um comportamento egoísta, invejoso, falso e inconsequente.
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