Uma das cartas que compõe o volume da correspondência que teria sido trocada por Abelardo e Heloísa é aquela que o filósofo dirige a um amigo. Nela Abelardo apresenta a sua versão para o romance que viveu com sua aluna, Heloísa. Ao contar a história, apresenta simultaneamente uma determinada imagem sobre si mesmo. Em sua opinião, que imagem seria essa?
Abelardo também se considerava de modo geral intelectualmente mais inteligente que os demais, e por causa disso, se via como alvo de grande inveja: "Minha fama crescia dia a dia: a inveja levantava-se contra mim". Sofreu ainda mais desse inveja quando tentou fundar sua escola, mas mesmo com as dificuldades, conseguiu funda-la em Corbeil, cidade próxima de Paris, fazendo uso de seu orgulho e sua auto-segurança: "Cheio de orgulho, seguro de mim, logo transferi minha escola para Corbeil, cidade bem próxima de Paris, para ali prosseguir mais vivamente nesse torneio intelectual".
Essa auto-segurança não era só por causa de sua inteligência, também se considerava um homem bonito e atraente que não precisa temer a recusa das mulheres: "Não duvidava do êxito: eu brilhava pela reputação, juventude e beleza, e não havia mulher junto a quem meu amor tivesse a temer recusa".
Ao conhecer Heloísa, viu outros lados de si mesmo. Por ela, se sentiu completamente apaixonado: "Todo inflamado de amor por essa jovem" e "Sob o pretexto de estudar, entregávamo-nos inteiramente ao amor". Essa paixão abarratadora mostrou o seu lado menos disciplinado: "Fazia minhas lições com negligência e torpor; não falava mais inspiradamente, mas produzia tudo de memória. Eu me repetia. Se conseguia escrever qualquer peça em versos, me era ditada pelo amor, não pela filosofia".
Se via como uma pessoa muito luxuriosa e orgulhosa, mas os acontecimentos e infortúnios que se sucederam em sua vida após o relacionamento com Heloisa, tiraram isso dele. A castração que foi vítima devido ao falso casamento que teve com Heloísa lhe tirou a luxúria, e o orgulho perdeu devido a destruição pública que foi vítima por não fé na bíblia sagrada: "Mas o orgulho e o espírito da luxúria me haviam invadido. Apesar de mim mesmo, a graça divina soube me curar de um e de outro: primeiro da luxúria, depois do orgulho. Da luxúria, tirando- me os meios de me entregar a ela Do orgulho que a ciência (segundo a palavra do apóstolo: "a ciência ensoberbece o coração") havia feito nascer em mim, humilhando-me pela destruição pública do livro do qual tirava a maior jactância.
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